segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Crazy Country Song


Dei por mim abraçada aos joelhos a balouçar, como os malucos. Na cabeça passava, em loop, um trecho de música country, que não sei onde fui buscar. A madeira do soalho fazia linhas curvas concorrentes que pareciam dançar, ou atacarem-se ferozmente numa batalha pelo m2. Vi-a de perto, à batalha. Ganhou a infantaria da zona nordeste. Começou a ficar frio. Tinha três casacos à minha volta. Os pés despidos de meias gelavam. Perguntei-me se se partiriam se lhes tocasse. Não se partiram. Lá em baixo vozes discutiam o telejornal. O cinto apertava-me a barriga, demasiado, era já desconfortável, mas se me mexesse ficava com mais frio. Então aguentei. Não era a primeira vez que chorava nesse dia. Decidi mudar de roupa, mas não me mexi. Abanei-me mais depressa. Talvez me aquecesse. Talvez soe louco mas sabe bem. Passara uma hora. Era hora de jantar. O jantar seria decerto peixe cozido, como o é sempre na pior altura. Estava cada vez mais frio. Abanava-me mais devagar. A música country tinha dado lugar ao toque do telemóvel. Era pelo menos mais agradável. Já não me conseguia lembrar como era a outra. Tentei, mas não consegui. Estava cansada. Tão cansada. E aquele maldito toque não me deixava em paz. Tocava incessantemente há já tanto tempo. Mas se me mexesse ficava com mais frio. Começou por fim a diminuir, gradualmente, enquanto gradualmente parei de abanar. Estava feliz por não ter de comer peixe cozido ao jantar. 



17.out.2010
20h30