sábado, 28 de junho de 2008

Polvo pt.2 - Anémonas que bailam jazz

Sobre os olhos semi-serrados de 3 horas de sono
Dançam na chávena de café alforrecas coloridas.
(uma entrou-me pelo nariz, era cor-de-rosas-murchas)
Janelas de vapor negro deixam ouvir
O cheiro a jornal pela manhã.
Dói-me a vista.
Deixa-me dormir...

número 3

Pouco me importa o mundo,
se gira ou não,
não tem ele a razão de tudo,
nem de ninguém,
pois razão não a tem.

sábado, 21 de junho de 2008

Pânico no salão de chá?

Uma miúda de cabelo branco apaga
a sua beata negra num chapéu
de cuco cheio de flores de cerejeira
daquelas á japonesa
Duas guitarras soam
duas guitarras só
duas guitarras soam estridentemente
Um dragão de fumo verde sai
do chapéu a dançar feliz e contente,
cordas partem-se e cortam de leve
os dedos, doce carícia esta que nos faz
bailar.
Duas guitarras soam
duas guitarras só
duas guitarras soam estridentemente
sós.

P.S.: a pontuação é propositadamente assim.

sapatos de cordel

Meu relógio parou.
Ou então fui eu.
Já não sei.

Os sapatos de cordel
que me aquecem as meias
ficaram em casa.

Está noite, e tenho saudades.
Saudades das quatro paredes
que me cobrem a nuca,
e me embalam o amanhecer.


(29 de Novembro de 2008)

sábado, 14 de junho de 2008

Um polvo na minha chavena de chá

Em slow motion: O aroma a pimenta paira
Sobre a grafonola
Tentando imaginar-se uma coisa densa e púrpura.

O amarelo forte das nuvens desenha-se
(Enquanto o tempo não passa)
Na escotilha por de trás do televisor:
“Lebres com corpo de gente
A preto e branco na banheira.”

Barcos de fósforos, perfumados,
Ironizam a sua impotência
Deixando-se cair no fundo do horizonte:
“Tenho um polvo na minha
Chávena de chá!”

Une lettre pour mon Amour

Assim que te foste choveu. E choveu por três dias.
Não levaste o que é teu, nem deixaste o que me pertence.
Só deixaste a chuva, que por três dias choveu.
Também deixaste a saudade, a que deixas sempre que te vais.
A que trazes, sempre que vens, para me deixar.
Deixaste-me a saudade e a chuva. A chuva que por três dias choveu sobre a nuca da saudade, deprotegida. Encharcou-a.
Pingando, a saudade murmura. Porque chove assim? Porque deixaste a chuva em vez de ti?
Porque não podes chover tu por três dias? Cair sobre mim, cair em mim... chover.
Foste. Foste, porque vais sempre, sem me deixar a tua chuva.
A tua.
Só queria que chovesses, sobre a minha nuca, desprotegida.
Vem, Amor, vem chover.
Vem cair em mim.


(19 de Abril de 2008)